quinta-feira, 13 de maio de 2010

Afinal, de que lado estás?

Afinal, de que lado estás?

Esta coisa de escrever, por vezes, coloca-me nas situações mais atípicas. Não que tais situações me causem preocupação ou me inibam de continuar a escrever. Até porque tenho dito que escrevendo exerço cidadania. E o exercício da cidadania a vários níveis é muito importante para as sociedades democráticas. E, sobretudo, para a nossa sociedade onde sopram perigosos ventos monolíticos. Onde a força política hegemónica não poupa esforços para que todos dancem ao ritmo do batuque comendo uma maçaroca. Esquecendo-se que cada um é livre de dançar ao ritmo que prefere ou que mais goste.
Mas são coisas próprias de uma sociedade onde a democracia é recente e o passado totalitário ainda tem marcas visíveis. E talvez por isso vemos o “Kimilsunguismo” a ganhar terreno e, parece que aos detentores do cartão vermelho é obrigatório que nos seus discursos enalteçam as qualidades do “Grande Líder”. Não que não as tenha, mas uff! começa a cansar que o erário público pague deputados cuja missão no Parlamento é quase unicamente enaltecer as qualidades do “Sábio Líder”. Aliás, nem acredito que ele precise de tanto escovismo. Mas estamos perante um caso em que a razão mora do lado onde há pão. Ou o que se pensa que é razão. Lá vão os tempos em que nas hostes do Partidão a dialéctica era prática.
Mas o problema sobra para os que preferem dançar ao ritmo da música que melhor lhes apraz, pouco se importando se o batuque que toca anima maçarocas ou perdizes. Falo dos que emitem as suas opiniões, pouco se importando com a coloração política das mesmas.
A esses espera uma questão: afinal de que lado estás?
E, eu não escapei a essa pergunta. Vinda de um amigo que depois da pergunta lembrou-me que eu estava a desiludir-lhe porque cada vez menos tinha certeza do lado em que eu estou. “Umas vezes pareces ser dos nossos mas na semana seguinte escreves umas coisas que dão a entender que estás do outro lado”. Só não ri às gargalhadas para não dar outra desilusão ao meu amigo.
Nem sequer importei que ele elaborasse mais da dicotomia “nós”, “eles”, porque há vários anos que convivo com esse conflito. Um conflito próprio de uma sociedade onde vários sectores continuam a não acreditar que há milhões de moçambicanos com ideias próprias e não atrelados a grupos, grupelhos ou gangs. Uma sociedade onde quando um indivíduo sem nome firmado sobressai, no lugar de lhe reconhecerem qualidades começam-lhe a atribuir padrinhos ou, sem hesitação chamam-lhe de testa de ferro do fulano. Como se todos os moçambicanos com alguma iniciativa fossem afilhados ou testas de ferro de alguém. O que disse serve, sobretudo, para os que sobressaem no mundo de negócios. Uma sociedade que acreditava que o saber fazer determinada coisa passa por estar num desses lados. E, talvez por, como me referi numa crónica anterior, vemos muitos candidatos a empreendedores de cartão vermelho em punho. Porque acreditam que estando desse lado podem ter o apadrinhamento necessário. Muitos deles nem nunca leram os estatutos do partido de que são membros. Mas simplesmente têm o cartão na expectativa de um apadrinhamento. Mas nem sequer se lhes pode atribuir culpa pela atitude que tomam mas sabem de antemão que na hora do apadrinhamento vão ter que responder a questão: Afinal, de que lado estás?
Felizmente para mim, eu sou o meu próprio lado.

Que tal se virássemos para a esquerda?

Que tal se virássemos para a esquerda?

Nas três gerações que se diz existirem em Moçambique uma tem uma missão muito espinhosa. A missão de virar. Deve ser por isso que é chamada de “geração de viragem”. É verdade que faço parte dos muitos que ignoram os critérios que determinaram a rotulagem dessas gerações e, sobretudo, porque nesse grupo há uma “geração de viragem”. Mas esse debate fica para outro momento neste mesmo espaço. Por ora preocupa-me saber para onde é que se pretende que a “geração de viragem” vire. Como acima disse, não me identifico com esse rótulo e muito menos sei das razões dela existir. Mas quando se fala da referida geração vejo indivíduos do meu grupo etário, pode ser que também eu seja um dos que hão-de “virar”. Não por opção própria mas por pertencer a um determinado grupo etário. Por isso também tenho as minhas sugestões da viragem que tem que ser feita.
À partida temos que assumir que se há uma “geração de viragem” é porque há necessidade de virar. Isto é, mudar de direcção. Se não agora, pelo menos um dia vai ter que se fazer a propalada “viragem”.
Mas a questão primeira que se coloca é: por que razão haverá necessidade de virar?
Muito provavelmente porque está na direcção errada. Ou pelo menos daqui a algum tempo a direcção que segue deverá entrar em falência.
E, porque essa coisa das três gerações é assunto político, por via de consequência estamos a falar de direcção política e de virar politicamente.
O actual cenário político só permite manobras para a esquerda. Porque é a direita que se está a andar. Basta ver como o capitalismo ganhou terreno fazendo esquecer os tempos em que a foice e o martelo já tiveram espaço privilegiado em Moçambique.
Por isso, para que a manobra não seja perigosa é só girar o volante para esquerda e mudar de direcção. E assim valerá a pena os arautos da “geração de viragem” ocuparem espaços privilegiados, exibindo obra feita. Porque de se dizer da “geração de viragem” somente para fazer coro não dá. É preciso ter obra feita. É preciso, no mínimo, ter feito alguma viragem.
E nada melhor que virar para esquerda. Claro que seria uma viragem ousada porque estaria na contra-mão da direcção que se segue hoje. Mas quem é “de viragem” tem que virar de facto.
Virar para a esquerda possibilitaria que a referida geração resgatasse valores nobres que o capitalismo, também selvagem, apagou da nossa sociedade.
Por exemplo, podiamos repensar as privatizações. Muitas delas feitas sem critérios e que tiveram como saldo desempregar os trabalhadores das empresas privatizadas, visto que grosso delas tornaram-se improdutivas. A opção seria voltar a nacionalizá-las porque está claro que, nesses casos, a privatização só teve resultados nefastos a nível económico e, também, social. Porque essa de que o Estado tem que estar fora da actividade económica e ser mero regulador não é verdade. Claro, desde que as empresas do Estado não sejam um fardo. Mas se produzem lucros, criam empregos e dinamizam a economia devem e muito bem existir.
Essa das privatizações de forma desenfreada é ideia dos que estão na direcção que vamos abandonar quando fizermos a viragem.
Outra coisa que podia ser feita é, no lugar de nos preocuparmos em popularizar os impostos que em muitos casos pode significar sobrecarregar os bolsos mais vazios, devia-se aumentar os impostos sobre as grandes fortunas que são aos montes no país. Essa de que pode desestimular o investimento não é bem verdade. Tanto mais que em Moçambique muitas das grandes fortunas nem sequer resultam de actividades produtivas. Mas da promiscuidade negócio-política.
São apenas alguns exemplos de como podia-se virar para uma sociedade mais justa onde os mais desprotegidos não continuem a se sacrificar para o benefício dos mais abastados.
Repito, apenas alguns exemplos de como pode-se de verdade virar. Porque virar de boca para fora é falar, não é virar.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

No exilio a preparar novo livro

Escrevo do exilio. Escrevo das montanhas do Reino da Swazilandia onde me encontro num exilio temporario. Estou a descansar, a meditar, a refletir e a preparar o meu novo livro depois desse ja conhecido por alguns, " Patria que me Pariu". Algumas vozes amigas aconselham-me a reeditar o livro quem marcou o meu baptismo de fogo no mundo literario. justificam o seu conselho no facto deste ter tido pouca divulgacao

No novo livro, a poesia continua a ser o prato forte, tanto na sua vertente de intervencao como na sua dimemensao lirica. O livro ja tem um titulo ainda que assumido como provisorio. " Poemas de um Exilio Consumado & Varias Cartas com Amor". Neste momento ainda e um bebe mas que ja comeca a andar. Nos proximos dias vou dar a conhecer aqui no meu blogg alguns dos poemas ja concluidos. Este livro representa para mim o fechar de um ciclo de vida e de escrita. Depois deste livro, a minha escrita devera tomar outro rumo. Irei ao encontro da prosa, um desafio antigo mas que, por razoes varias, tem sido adiado.

Daqui do exilio recebam todos os desejo de uma patria melhor para todos.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Crise no Nucleo de Arte

Guerra pelo poder está ao rubro

Núcleo de Arte vive momentos de agitação

Celso Manguana

O Núcleo de Arte, um das mais antigas agremiaçőes culturais no activo em Moçambique, nasceu em 1921, está a viver momentos conturbados.
Acusada de má gestão e desvios de fundos a direcção da mesma, liderada por Gilberto Cossa, terá sofrido um golpe palaciano protagonizado por um grupo de membros encabeçado pelo artista Gumatsy. O cenário é, de certa forma, surrealista visto que torna-se difícil saber quem de facto manda no Núcleo de Arte. Caso para dizer, que os pincéis estão transformados em machados de guerra. O semanário Zambeze ouviu os protagonistas da referida novela para melhor conhecer os contornos da mesma.


Para conhecer as linhas com que se cose a situação conturbada que se vive no Núcleo de Arte, a reportagem do semanário Zambeze começou por ouvir o artista Augusto Magaia, Gumatsy, que lidera a Comissão de artistas que, ao que parece, neste momento, está em frente dos destinos da agremiação.Segundo Gumatsy a situação no Núcleo de Arte terá começado a deteriorar-se quando," nos apercebemos que os elementos da direcção eleita denotavam problemas na gestão e, também quando descobrimos que havia desvios de fundos". Para sustentar as suas acusaçőes contra a direcção do Núcleo de Arte, Gumatsy referiu- se a "dívidas de água e luz e dívidas de salários aos trabalhadores". Sobre os desvios de fundos que Gumatsy disse terem sido protagonizados pela direcção do Núcleo de Arte, o nosso entrevistado fez referência ao Workshop patrocinado pela Associação Mozal." Nesse Workshop ficou claro que os elementos da direcção desviaram fundos alocados pela Associação Mozal". Outro ponto que segundo o interlocutor do semanario Zambeze terá contribuido para o deteriorar da situação prende-se com facto de, " o presidente,Gilberto Cossa, ter levado nossas obras para a Expo Saragoça- 2008 e, no fim da mesma não nos ter dito nada".
Na entrevista como o nosso jornal, Gumatsy disse que houve vários contactos entre os membros e a direcção que visavam resolver o difererendo tendo- se inclusive, " convocado um Assembleia Geral Extraordinária". Na referida Assembleia Geral Extraordinária o presidente do Conselho Fiscal, o artista plastico Naguib, decidiu pela devolução das chaves da agremiação ao secretário- geral da mesma, Eugénio Saranga. Contudo, Gumatsy e seus pares recusaram a acatar com a decisão do presidente do Conselho Fiscal porque, segundo ele, "Eugénio Saranga já não estava em frente da gestão do Nucleo de Arte".
Questionado sobre qual seria, na sua opinião, o melhor caminho para se ultrapassar cenário que actualmente vive- se no Núcleo de Arte, Gumatsy, lembrou que o mandato da actual direcção termina no mês de Outubro dos ano que corre. Segundo ele, "não só deviam ser convocadas novas eleições mas, também levar em linha de conta de que o que Núcleo de Arte precisa são gestores. É complicado quando os próprios artistas assumem tarefas de gestão". O interlocutor do semanário Zambeze defendeu uma "alteração dos estatutos para que a mesma seja dirigida por gestores preparados para o efeito". A terminar, Gumatsy classificou de " positiva" a gestão que tem sido levada a cabo pela comissão por si liderada." Conseguimos coletar fundos para o pagamento de cerca de metade das nossas dívidas de água e luz". Serve de referência dizer que os fundos do Núcleo de Arte resultam das quotas dos membros, estando a quota mensal fixada em 50 Meticais. Contudo, o semanário Zambeze tem informações que indicam que, dos cerca de 300 membros inscritos somente pouco mais de 30 pagam as suas quotas com regularidade. Outra fonte de receitas da agremiaçao é a percentagem que a agremiaçao retém das vendas de obras de arte que efectua na sua galeria. O apoio que é dado por entidades e personalidades que se identificam com o Núcleo de Arte é outra fonte de fundos para a agremiação.

Gilberto Cossa evasivo

Colocado pelo semanário Zambeze perante os factos acima relatados, o presidente do Núcleo de Arte, Gilberto Cossa, foi muito cauteloso e, de certa forma, evasivo. Cossa disse que reservava-se ao direito de não responder as acusações que pesam sobre ele. A razão evocada por Gilberto Cossa prende-se , segundo as suas palavras, com "o respeito que tenho pelos membros do Nucleo de Arte que como sabe não são só esses que formam a tal comissão". Sempre parco em palvras, Cossa disse ainda nao ter chegado o momentode fazer reveleções sobre aquilo que considerou ser " o verdadeiro problema do Núcleo de Arte". Pedimos a Gilberto Cossa que aprofundasse o que pretendia dizer com" verdadeiro problema do Núcleo de arte", contudo, o nosso interlocutor limitou-se a dizer que tal só poderia ser possível , " no momento oportuno". Na acepção de Gilberto Cossa, o referido momento será quando, " eu deixar de ser presidente do Núcleo de Arte". No entanto, o presidente do Núcleo de Arte disse acreditar que a actual situação da agremiação pode ser ultrapassada. Na sua opinião a solução passa pela "realização de eleições" . Gilberto Cossa fez questão de frisar que ele não se irá apresentar como candidato nas referidas eleições.para as quais ele nao se ira recandidatar. O mandato do elenco dirigido por Gilberto Cossa termina no mês de Outubro do ano que corre.

Eugénio Saranga contra-ataca

Pouco depois da conversa com Gilberto Cossa, o autor destas linhas recebeu uma chamada do secretário –geral do Núcleo de Arte, Eugénio Saranga, dando a conhecer o seu interesse em prestar declarações ao semanário Zambeze sobre o momento conturbado que se vive na agremiação dos artistas plásticos.
Segundo Eugénio Saraga, o elenco de que faz parte terá sido vítima de " elementos resistentes a mudanças que queríamos levar a cabo". O nosso interlocutor fez saber que o seu elenco pretendia fazer do Núcleo de Arte, "um lugar limpo, impoluto e livre de drogas". Saranga fez questão de enfatizar que há pessoas que sob a capa de artistas dirigem-se ao Núcleo de Arte com objectivo de consumirem drogas.
Eugénio Saranga que por várias vezes, durante a entrevista, lembrou que ele continua a ser o secretário- geral Nucleo de Arte, disse continuar a espera que os membros da já supracitada comissão devolvam-lhe as chaves para que ele continue a trabalhar. Segundo ele, aquando da sua viagem a Lisboa onde efectuou uma exposição individual, ele próprio escolheu um grupo de artistas para apoiarem a direcção na sua gestão quotidiana da agremiacção. Foi a esse grupo que ele entregou as chaves da agremiaçao mas, para o seu espanto, no seu regresso recusaram-se a devolverer-lhe as mesmas chaves alegadamente porque ele desviava fundos do Núcleo de Arte. Saranga foi,inclusive, acusado de ter financiado a sua viagem a terras lusas com fundos supostamente desviados. Contudo, Saranga, refuta tais acusações e convida aos seus detractores a provarem o alegado desvio fundos.
Em relação a possível saída do actual estado de coisas , Eugénio Saranga acredita que o ideal seria a realização de uma Assembleia Geral e das respectivas eleições.


O polémico Centro Social


Outro dos motivos que divide as duas alas em conflito no Núcleo de Arte liga-se ao Cento Social que leva o nome de <>. O mesmo está sob gestão privada , contudo, Gumatsy acha insuficientes os valores monetários que resultam aluguer do mesmo. Segundo ele , a renda mensal esta fixada em 1000 meticais, valor, na sua opinião, situado "muito abaixo da realidade".
Questionado sobre a situação do Centro Social, Eugénio Saranga, disse que os acordos referentes ao gestão do mesmo pela actual gestora são anteriores a direcção de que faz parte. Segundo ele, a sua direcção tudo fez para que os preços praticados no local estivessem ao alcance dos membros da agremiaçao. " Fomos nós que negociamos para que os preços do Centro Social estivessem ao alcance dos bolsos dos artistas". No entanto, Saranga disse amargurado que a luta levada a cabo pela sua direcção não teve o apoio de muitos dos artistas que, mesmo prejudicados pelo nível de preços praticados abstiveram-se de participar da batalha. Contudo, a polémica em volta do Centro Social não se esgota nos pontos acima referenciados. O mesmo tem sido motivo de disputas judiciais envolvendo a actual gestora do mesmo e a direcção do Núcleo de Arte.( In Zambeze)

Polemico nome da Ponte sobre o Zambeze

Polemica em torno do nome da ponte sobre o Zambeze

Celso Manguana

Um grupo de cidadãos moçambicanos pôs a circular na internet uma Carta Aberta ao Presidente da República na qual, entre outras coisas, apela-se a que este, "por razões éticas e de justiça não aceite a proposta avançada pelo ministro das Obras Públicas e Habitação, no sentido de a ponte sobre o rio Zambeze ostentar o seu nome". A inauguração da referida ponte está agendada para o próximo dia 1 de Agosto e, por decisão do Conselho de Ministros vai ostentar o nome do actual Presidente da República, Armando Guebuza. Os signatários da referida carta sugerem que a ponte em causa ostente o nome de Eduardo Mondlane. Mas também apresentam outros nomes alternativos para empreendimento.


Na Carta Aberta ao Presidente da República a que o semanário Zambeze teve acesso, os signatarios da mesma, referem que são, "pelo não endeusamento e pelo não culto de personalidades exercendo cargos públicos". Ao Presidente da República, lembram que, "em muitos países é prática que não se atribuam nomes de personalidades vivas a instituições públicas". Os nomes dos ditadores Salazar, Mussolini e Hitler são apresentados como exemplo de figuras que, "deixaram seus nomes estampados em obras de envergadura, mas que depois tais empreendimentos mudaram de nome>. Os autores da referida Carta Aberta dizem que não gostariam que o Presidente da Republica, Armando Guebuza entrasse na história como as figuras supracitadas.
A dado passo da sua missiva, os signatários da mesma, apelam ao Presidente da Republica que, "deixe que seja a história, que seja o povo a endeusa-lo. Tem se dito que elogio próprio é vitupério".
A Carta Aberta em alusão aponta, para os colaboradores do Presidente da República, como estando por detrás do facto de a ponte a inaugurar no dia 1 de Agosto vir a ostentar o nome do mesmo.Num dos pontos da mesma pode-se ler: " Não deixe que o falso elogio, o lambe-botismo, a subserviência dos seus colaboradores o façam perder a Dignidade, Sentido de Justiça, Humildade e Grandeza que o momento requer".

Alicerçando a sua tese no facto de o Executivo moçambicano liderado pelo próprio Armando Guebuza ter consagrado o ano 2009 como ano Eduardo Mondlane, os signatários da retromencionada Carta Aberta defendem ser este, " o momento de dar subsistência a essa exaltação. Faça-o, conferindo no ANO EDUARDO MONDLANE, o nome de EDUARDO MONDLANE a Ponte do Zambeze, em memória deste filho da Pátria moçambicana e Arquitecto da Unidade Nacional, inequivocamente aceite por todos os quadrantes, que deu a sua vida para que hoje Moçambique fosse livre".
Contudo, na refirada carta são dadas outras propostas de nomes para a Ponte sobre o rio Zambeze no caso de o Presidente da República não concordar que a mesma ostente o nome de Eduardo Mondlane.
As nomes alternativos apresentados a ponte são: Ponte 4 de Outubro- em homenagem à Paz, Ponte de Chimuara- em homenagem a todo esforço do povo moçambicano e, em particualr da Zambézia na luta pela sua construção, Ponte sobre o Zambeze- em homenagem a este gigantesco rio que alimenta o país, Ponte da Unidade Nacional- em homenagem à eliminação do acidente geográfico que impedia o país de se unir, Ponte Filipe Samuel Magaia- em homenagem ao grande estratega da luta de libertação nacional, Ponte 25 de Junho- em homenagem ao dia da Independência ou Ponte 25 de Setembro em homenagem ao início da Gesta heróica dos heróis da luta de libertação.
A terminar os signatários da Carta Aberta dirigem-se ao Presidente da República nos seguintes termos: "Tenha a certeza senhor Presidente que o seu nome ( se for o caso) apenas ficará registado na placa e nos dircursos de ocasião. Porque na memória do povo ela será sempre Ponte da Unidade, Ponte do Zambeze ou Ponte Eduardo Mondlane. A História o julgará ou a História lhe fará justiça". Entre os signatários da Carta Aberta ao Presidente da República figuram nomes de diversas figuras da sociedade moçambicana como são os casos do deputado e académico Manuel de Araújo, do jornalista Machado da Graça e do animador cultural Tomás Mulungo. ( In Zambeze)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Estou de Regresso

Aos amigos que visitam este blogue , quero dizer que nos proximos dias comecarei a publicar poemas do meu proximo livro, ainda sem titulo, e que dedico ao meu pai que morreu em Maio. E ao amigo Gildo, Rock, para muitos amigos, que morreu envenenado. A morte sempre presente na minha poesia. Afinal, Patria quero so uma, o lugar de morte.
Aproveito a oportunidade para lancar um desafio: VALE A PENA A RENAMO EXPULSAR DEVIZ SIMANGO? QUEM GANHA COMO ISSO?

terça-feira, 1 de julho de 2008

Patria Que Me Pariu Finalmente Lancado

Pátria que me pariu, finalmente lançado

O amor, a memória/ a loucura: os três lugares de exílio de Celso Manguana

Foi finalmente lançado o livro " pátria que me Pariu" do jornalista e poeta Celso Manguana. A cerimonia decorreu, sexta-feira passada, na sede da Associação Moçambicana de Fotografia e foi levada a cabo pela União Nacional de Escritores (UNE). A seguir e na integra o texto da apresentação do livro, feita pelo sóciologo e também poeta Luís Cezerilo


LUIS CEZERILO

Com mestria, o "agricultor de seus verdes" chega à messe. Sendo um sopro na aragem, enforca-se. Tal atitude faz nascer a Poesia fruto da cópula do poeta com sua amada companheira - a palavra. Na inspiração, desenvolve-se o embrião, eis o momento do parto: o poeta traz hoje ao mundo a sua filha e baptiza-a de Pátria que me pariu.
Segue à risca o que foi ordenado ao homem - "crescei, multiplicai e enchei a Terra", para privilégio nosso, o poeta Celso Manguana enche o planeta com frutos de sua relação e torna mais bela assim a Literatura Moçambicana.
Johann Wolfgang Von Goethe lembrava:
O maior mérito do homem consiste sem dúvida em determinar tanto quanto possível as circunstâncias e em deixar-se determinar por elas tão pouco quanto possível. Todo o universo está perante nós como uma grande pedreira perante o arquitecto, o qual só merece esse nome se com a maior economia, conveniência e solidez constituir, a partir dessas massas acidentalmente acumuladas pela Natureza, o protótipo nascido no seu espírito. Fora de nós, tudo é apenas elemento. Sim, até posso dizer: tudo o que há em nós também. Mas no fundo de nós próprios encontra-se essa força criadora que nos permite produzir aquilo que tem de ser e que não nos deixa descansar, nem repousar, enquanto não o tivermos realizado, de uma maneira ou de outra, fora de nós ou em nós.
As apresentações, no mais das vezes, se colocam no lugar da fala intermediária. É o discurso de outrem que, via de regra, se institui como discurso autorizado para discorrer sobre um conjunto de escrita consubstanciada numa obra, num livro. Para além de óbvio que esta afirmação revela, devemos nos ater ao cuidado que ela exige. Roland Barthes já chamaria a atenção de elas, as apresentações, se revestirem de uma intenção ética e moral: na impossibilidade doa autores se apresentarem por si mesmo, o escritor é interditado deste momento de sumária apresentação sobre os seus feitos. Ele convenientemente silencia, e se abre assim a interpretação. Se tal afirmação nos é permitida, teremos que admitir que se trata de um desafio Arriscado, porém necessário.
O que um poeta pensa do mundo e dos seus habitantes está nos livros que escreve, por mais que ele insista que é apenas um narrador e que não se responsabiliza pelas acções e opiniões das suas personagens. Não adianta o poeta esconder-se, pois, todo o poema é a favor ou contra, e uma mudança de parágrafo pode ser uma tomada de posição em relação ao que o poeta pensa da sua sociedade. Confessou-me, o amigo Celso nos raros mas preciosos silêncios da nossa convivência:
Sou um homem mal-enganado e sempre houve a suspeita de que sou subversivo e a favor de determinadas coisas que eles, os donos do Poder entendem como subversivas. Não participo na política por falta de talento e de gosto. O partido é uma imposição, uma prisão, e eu prefiro pensar em termos de Liberdade.
Como podemos observar o poeta considera que o compromisso com a liberdade, além da sua fascinação com o trágico e o cómico das relações humanas e os mistérios da memória e da criação, é tão claro aqui quanto na sua poesia.
Neste breve momento de estar na poesia de Manguana, tomamos Penélope e a Aranha como metáforas – desgastadas e vigorosamente vivas – da constituição da sociedade moçambicana como um grande texto. A metáfora neste sentido encontra-se num sintagma em que aparecem contraditoriamente a identidade de dois significantes e a não identidade de dois significados correspondentes ou na transferência analógica de denominações segundo Benveniste.

Minhas Senhoras,
Meus Senhores

Pátria que me pariu é um texto que nos leva a tecer na urgência e displicência do nosso quotidiano vivido sem método e sem ciência, e que se transforma em vontade de uma época, expressando um espírito unificador que permite a identificação de diferentes experiências vivenciadas pelo poeta e pelo país do Rovuma ao Maputo.
Este tecido multicolorido, colcha de retalhos de "eus", do eu lírico, estilhaçados de uma modernidade tardia, plural e contraditória torna a poesia de Manguana complexa, rica e singular a tudo que já se pôde viver e morrer em Pátria, e porque não, Mátria.
Chegaste/já não quero ouvir falar de pátrias/nem de pitas/tenho uma Mátria/Já não tenho que escrever/tenho que amar/eu tenho uma Mátria/minha Mátria, meu amor/Meu amor minha Mátria/Quem tem Mátria não precisa de Pátria. (pág. 40).
Essa cultura do caos, da ausência e do limite, na poesia de Celso Manguana, joga-nos num universo dinâmico e extraordinariamente sedutor, entre tantos discursos, que ficamos a procura onde foi que nos perdemos a nós mesmos. Cito: Pátria/quero só uma/o lugar de morte/A nenhuma cidadania/pertenço/conheço/três lugares de exílio/O amor, a memória/ a loucura. (pág. 10)
Manguana conduz-nos a desafios plurivocais do nosso tempo, questionando a ética que o requer, o princípio que o orienta, o valor humano que o conduz – A Liberdade.
Na luz bruxuleante das urbanidades nacionais tudo o que podemos obter é o vazio de uma referência estável, como se a vida fosse um ponto desfocalizado na lente embaçada das nossas retinas de excesso de claridade: "não despeço, peço lume/charro aceso prossigo/para a morte, obviamente para a morte/minha Pátria. (pág. 11)."
Por isso mesmo quando me dei ao abrigo na poética de Celso Manguana, captada na teia da presente obra Pátria que me pariu observamos que se poderia escolher a diversidade da linguagem e da história, deixando que os poemas pudessem falar por si mesmos da sua finitude, incompletude e esperança, que é uma forma possível de dizer segundo o autor:
"No seu Mercedes C Class /o patrão sabe/do novo preço do chapa?/Sabe?/ (Pág. 28)."continua, "Sangue muito sangue/estrume talvez/para regar as causas/só as causas justas /Mas sonhamos só a meia haste. (pág. 17);" esperançado reclama: "quem tudo chorou merece ser feliz/um minuto só porque num minuto há tempo bastante para amar/deixar de amar e voltar a amar. E ponto"
Não pretendemos, sob qualquer pretexto, promover ou estimular classificações estanques, pois, Celso Manguana não cabe certamente em categorias particulares e não enclausura sua poética neste ou naquele gênero e ao ler a presente obra, testemunhamos uma constante diluição das fronteiras textuais: poesia realista, cultural, social, política e poesia lírica que compõem os traços da sua obra deste Delfim da poesia moçambicana
Como já dizia Roland Barthes, em o Rumor da Língua: a linguagem literária excede sempre qualquer esquema descritivo, escapa sempre às malhas grosseiras de metalinguagem técnica. De acordo com Leila Perone-Moisés, suas análises, as de Barthes, o conduziram a ver menos o que se encaixava nos modelos do que aquilo que os desmantelava.
Ainda para Perone-Moises, o texto literário tomado por esse autor não foi dominado pela necessidade de decifrá-lo, visto que foi o indomável que o seduziu e que provocou, em vez de uma simples grade de leitura do texto-objecto, a produção de um novo texto tão complexo e fascinante quanto aquele que lhe servira de pretexto. A tentativa de saber o que o texto literário significa revelou-se para Barthes como uma impossibilidade e um logro.
Contudo o texto escrito ultrapassa o mero acto de reter o dito. A tensão que se estabelece é, portanto, entre o "dizer original" e a inevitável abertura que sempre leva em conta a alteridade – o outro - a quem esse dizer, afinal, se destina. Este não corresponde ao que chamaríamos de um interlocutor originário, como alguém que tem diante de si a tarefa de compreender, imposta pelo próprio texto, pois como diz Gadamer, um texto não é um objecto dado, mas uma fase na realização de um processo de entendimento.
Truísmo à parte, Manguana é um homem de seu tempo, representando-o sob diversos modos. Em sua obra, misturam-se e separam-se, num jogo concomitante, o sujeito e o poeta. O filósofo Giorgio Agamben, em Profanações (2007), retoma a discussão sobre o par função-autor e autor, estabelecido por Foucault. Agamben lembra-nos que, para Foucault, a marca do escritor "residia na singularidade de sua ausência, aguardando-lhe, no jogo escriturário, o papel de morto."(Agamben 2007:55).
À luz das considerações de Foucault, Agamben considera que um autor assinala uma só vez a vida que foi jogada na obra – e que foi jogada como obra. Para ele, o autor é um gesto, "tão-somente a testemunha, o fiador de sua própria ausência na obra, cabendo ao leitor, por sua vez, retraçar essa ausência como no infinito recomeço do jogo" (Agamben 2007: 55).
Sob esse ponto de vista, consideramos que em Celso Manguana a função-autor é exercida plenamente pois caracteriza "o modo de existência, de circulação e funcionamento de certos discursos no interior de uma sociedade". (Agamben 2007: 56).
Numa espécie de convivência velada com a escrita de Celso, entrarão a compor uma sinfonia de racionalidade e intuição, dialogando inteligências solitárias de cuja solidão do eu lírico ninguém tem culpa, mas pela maravilha da escrita e do livro poderão reflectir sobre sentidos e silêncios das diversas pátrias no autor. Estamos aqui e agora fazendo a travessia do nosso tempo, e não nos esquecendo de que o dia precisa testemunhar a fatia de vida que nos cabe, inusitadamente a cada minuto.
No território fecundo de Pátria que me pariu, encerramos assuntos e especificidades variadas, mas todos trilhando o chão plástico da linguagem, dos discursos e da sociedade moçambicana que os produz, de modo a reiterar a relação vivificadora da poesia e das práticas sociais que à premeia.
Pátria que me pariu, apresenta-se como um mosaico de experiências de vida de Celso Manguana, e sobretudo, como vivência humana que entre um sonho e um pedaço do real continua o saudável e necessário espaço da produção literária moçambicana. Retomando a metáfora inicial desta apresentação onde o mapa rico, desenhado com os fios e dissimilares traços da aranha tecedeira, este livro guarda a imagem da unidade possível, não unívoca, mas plural e múltipla, aliás marca identitária do autor, no fio sensível dos nossos mestres Craveirinha, White, reafirmando a qualidade, o vigor e a solidez da produção da linguagem na literatura moçambicana.
À terminar diria uma Penélope a tecer o encantamento de seu tempo, o gosto de lembrar para esquecer, e assim ser possível reeditar a cada dia o sentido do amor e da liberdade: Empresta-me o teu ombro para que as minhas lágrimas corram/Lentamente/Sem pressa/Assim devagarinho até onde o amor é.
Assim sendo, convido o estimado leitor a inscrever-se nesse tecido.
Muito obrigado

* Texto lido aquando do lançamento do livro do jornalista e poeta Celso Manguana