segunda-feira, 27 de julho de 2009

Crise no Nucleo de Arte

Guerra pelo poder está ao rubro

Núcleo de Arte vive momentos de agitação

Celso Manguana

O Núcleo de Arte, um das mais antigas agremiaçőes culturais no activo em Moçambique, nasceu em 1921, está a viver momentos conturbados.
Acusada de má gestão e desvios de fundos a direcção da mesma, liderada por Gilberto Cossa, terá sofrido um golpe palaciano protagonizado por um grupo de membros encabeçado pelo artista Gumatsy. O cenário é, de certa forma, surrealista visto que torna-se difícil saber quem de facto manda no Núcleo de Arte. Caso para dizer, que os pincéis estão transformados em machados de guerra. O semanário Zambeze ouviu os protagonistas da referida novela para melhor conhecer os contornos da mesma.


Para conhecer as linhas com que se cose a situação conturbada que se vive no Núcleo de Arte, a reportagem do semanário Zambeze começou por ouvir o artista Augusto Magaia, Gumatsy, que lidera a Comissão de artistas que, ao que parece, neste momento, está em frente dos destinos da agremiação.Segundo Gumatsy a situação no Núcleo de Arte terá começado a deteriorar-se quando," nos apercebemos que os elementos da direcção eleita denotavam problemas na gestão e, também quando descobrimos que havia desvios de fundos". Para sustentar as suas acusaçőes contra a direcção do Núcleo de Arte, Gumatsy referiu- se a "dívidas de água e luz e dívidas de salários aos trabalhadores". Sobre os desvios de fundos que Gumatsy disse terem sido protagonizados pela direcção do Núcleo de Arte, o nosso entrevistado fez referência ao Workshop patrocinado pela Associação Mozal." Nesse Workshop ficou claro que os elementos da direcção desviaram fundos alocados pela Associação Mozal". Outro ponto que segundo o interlocutor do semanario Zambeze terá contribuido para o deteriorar da situação prende-se com facto de, " o presidente,Gilberto Cossa, ter levado nossas obras para a Expo Saragoça- 2008 e, no fim da mesma não nos ter dito nada".
Na entrevista como o nosso jornal, Gumatsy disse que houve vários contactos entre os membros e a direcção que visavam resolver o difererendo tendo- se inclusive, " convocado um Assembleia Geral Extraordinária". Na referida Assembleia Geral Extraordinária o presidente do Conselho Fiscal, o artista plastico Naguib, decidiu pela devolução das chaves da agremiação ao secretário- geral da mesma, Eugénio Saranga. Contudo, Gumatsy e seus pares recusaram a acatar com a decisão do presidente do Conselho Fiscal porque, segundo ele, "Eugénio Saranga já não estava em frente da gestão do Nucleo de Arte".
Questionado sobre qual seria, na sua opinião, o melhor caminho para se ultrapassar cenário que actualmente vive- se no Núcleo de Arte, Gumatsy, lembrou que o mandato da actual direcção termina no mês de Outubro dos ano que corre. Segundo ele, "não só deviam ser convocadas novas eleições mas, também levar em linha de conta de que o que Núcleo de Arte precisa são gestores. É complicado quando os próprios artistas assumem tarefas de gestão". O interlocutor do semanário Zambeze defendeu uma "alteração dos estatutos para que a mesma seja dirigida por gestores preparados para o efeito". A terminar, Gumatsy classificou de " positiva" a gestão que tem sido levada a cabo pela comissão por si liderada." Conseguimos coletar fundos para o pagamento de cerca de metade das nossas dívidas de água e luz". Serve de referência dizer que os fundos do Núcleo de Arte resultam das quotas dos membros, estando a quota mensal fixada em 50 Meticais. Contudo, o semanário Zambeze tem informações que indicam que, dos cerca de 300 membros inscritos somente pouco mais de 30 pagam as suas quotas com regularidade. Outra fonte de receitas da agremiaçao é a percentagem que a agremiaçao retém das vendas de obras de arte que efectua na sua galeria. O apoio que é dado por entidades e personalidades que se identificam com o Núcleo de Arte é outra fonte de fundos para a agremiação.

Gilberto Cossa evasivo

Colocado pelo semanário Zambeze perante os factos acima relatados, o presidente do Núcleo de Arte, Gilberto Cossa, foi muito cauteloso e, de certa forma, evasivo. Cossa disse que reservava-se ao direito de não responder as acusações que pesam sobre ele. A razão evocada por Gilberto Cossa prende-se , segundo as suas palavras, com "o respeito que tenho pelos membros do Nucleo de Arte que como sabe não são só esses que formam a tal comissão". Sempre parco em palvras, Cossa disse ainda nao ter chegado o momentode fazer reveleções sobre aquilo que considerou ser " o verdadeiro problema do Núcleo de Arte". Pedimos a Gilberto Cossa que aprofundasse o que pretendia dizer com" verdadeiro problema do Núcleo de arte", contudo, o nosso interlocutor limitou-se a dizer que tal só poderia ser possível , " no momento oportuno". Na acepção de Gilberto Cossa, o referido momento será quando, " eu deixar de ser presidente do Núcleo de Arte". No entanto, o presidente do Núcleo de Arte disse acreditar que a actual situação da agremiação pode ser ultrapassada. Na sua opinião a solução passa pela "realização de eleições" . Gilberto Cossa fez questão de frisar que ele não se irá apresentar como candidato nas referidas eleições.para as quais ele nao se ira recandidatar. O mandato do elenco dirigido por Gilberto Cossa termina no mês de Outubro do ano que corre.

Eugénio Saranga contra-ataca

Pouco depois da conversa com Gilberto Cossa, o autor destas linhas recebeu uma chamada do secretário –geral do Núcleo de Arte, Eugénio Saranga, dando a conhecer o seu interesse em prestar declarações ao semanário Zambeze sobre o momento conturbado que se vive na agremiação dos artistas plásticos.
Segundo Eugénio Saraga, o elenco de que faz parte terá sido vítima de " elementos resistentes a mudanças que queríamos levar a cabo". O nosso interlocutor fez saber que o seu elenco pretendia fazer do Núcleo de Arte, "um lugar limpo, impoluto e livre de drogas". Saranga fez questão de enfatizar que há pessoas que sob a capa de artistas dirigem-se ao Núcleo de Arte com objectivo de consumirem drogas.
Eugénio Saranga que por várias vezes, durante a entrevista, lembrou que ele continua a ser o secretário- geral Nucleo de Arte, disse continuar a espera que os membros da já supracitada comissão devolvam-lhe as chaves para que ele continue a trabalhar. Segundo ele, aquando da sua viagem a Lisboa onde efectuou uma exposição individual, ele próprio escolheu um grupo de artistas para apoiarem a direcção na sua gestão quotidiana da agremiacção. Foi a esse grupo que ele entregou as chaves da agremiaçao mas, para o seu espanto, no seu regresso recusaram-se a devolverer-lhe as mesmas chaves alegadamente porque ele desviava fundos do Núcleo de Arte. Saranga foi,inclusive, acusado de ter financiado a sua viagem a terras lusas com fundos supostamente desviados. Contudo, Saranga, refuta tais acusações e convida aos seus detractores a provarem o alegado desvio fundos.
Em relação a possível saída do actual estado de coisas , Eugénio Saranga acredita que o ideal seria a realização de uma Assembleia Geral e das respectivas eleições.


O polémico Centro Social


Outro dos motivos que divide as duas alas em conflito no Núcleo de Arte liga-se ao Cento Social que leva o nome de <>. O mesmo está sob gestão privada , contudo, Gumatsy acha insuficientes os valores monetários que resultam aluguer do mesmo. Segundo ele , a renda mensal esta fixada em 1000 meticais, valor, na sua opinião, situado "muito abaixo da realidade".
Questionado sobre a situação do Centro Social, Eugénio Saranga, disse que os acordos referentes ao gestão do mesmo pela actual gestora são anteriores a direcção de que faz parte. Segundo ele, a sua direcção tudo fez para que os preços praticados no local estivessem ao alcance dos membros da agremiaçao. " Fomos nós que negociamos para que os preços do Centro Social estivessem ao alcance dos bolsos dos artistas". No entanto, Saranga disse amargurado que a luta levada a cabo pela sua direcção não teve o apoio de muitos dos artistas que, mesmo prejudicados pelo nível de preços praticados abstiveram-se de participar da batalha. Contudo, a polémica em volta do Centro Social não se esgota nos pontos acima referenciados. O mesmo tem sido motivo de disputas judiciais envolvendo a actual gestora do mesmo e a direcção do Núcleo de Arte.( In Zambeze)

Polemico nome da Ponte sobre o Zambeze

Polemica em torno do nome da ponte sobre o Zambeze

Celso Manguana

Um grupo de cidadãos moçambicanos pôs a circular na internet uma Carta Aberta ao Presidente da República na qual, entre outras coisas, apela-se a que este, "por razões éticas e de justiça não aceite a proposta avançada pelo ministro das Obras Públicas e Habitação, no sentido de a ponte sobre o rio Zambeze ostentar o seu nome". A inauguração da referida ponte está agendada para o próximo dia 1 de Agosto e, por decisão do Conselho de Ministros vai ostentar o nome do actual Presidente da República, Armando Guebuza. Os signatários da referida carta sugerem que a ponte em causa ostente o nome de Eduardo Mondlane. Mas também apresentam outros nomes alternativos para empreendimento.


Na Carta Aberta ao Presidente da República a que o semanário Zambeze teve acesso, os signatarios da mesma, referem que são, "pelo não endeusamento e pelo não culto de personalidades exercendo cargos públicos". Ao Presidente da República, lembram que, "em muitos países é prática que não se atribuam nomes de personalidades vivas a instituições públicas". Os nomes dos ditadores Salazar, Mussolini e Hitler são apresentados como exemplo de figuras que, "deixaram seus nomes estampados em obras de envergadura, mas que depois tais empreendimentos mudaram de nome>. Os autores da referida Carta Aberta dizem que não gostariam que o Presidente da Republica, Armando Guebuza entrasse na história como as figuras supracitadas.
A dado passo da sua missiva, os signatários da mesma, apelam ao Presidente da Republica que, "deixe que seja a história, que seja o povo a endeusa-lo. Tem se dito que elogio próprio é vitupério".
A Carta Aberta em alusão aponta, para os colaboradores do Presidente da República, como estando por detrás do facto de a ponte a inaugurar no dia 1 de Agosto vir a ostentar o nome do mesmo.Num dos pontos da mesma pode-se ler: " Não deixe que o falso elogio, o lambe-botismo, a subserviência dos seus colaboradores o façam perder a Dignidade, Sentido de Justiça, Humildade e Grandeza que o momento requer".

Alicerçando a sua tese no facto de o Executivo moçambicano liderado pelo próprio Armando Guebuza ter consagrado o ano 2009 como ano Eduardo Mondlane, os signatários da retromencionada Carta Aberta defendem ser este, " o momento de dar subsistência a essa exaltação. Faça-o, conferindo no ANO EDUARDO MONDLANE, o nome de EDUARDO MONDLANE a Ponte do Zambeze, em memória deste filho da Pátria moçambicana e Arquitecto da Unidade Nacional, inequivocamente aceite por todos os quadrantes, que deu a sua vida para que hoje Moçambique fosse livre".
Contudo, na refirada carta são dadas outras propostas de nomes para a Ponte sobre o rio Zambeze no caso de o Presidente da República não concordar que a mesma ostente o nome de Eduardo Mondlane.
As nomes alternativos apresentados a ponte são: Ponte 4 de Outubro- em homenagem à Paz, Ponte de Chimuara- em homenagem a todo esforço do povo moçambicano e, em particualr da Zambézia na luta pela sua construção, Ponte sobre o Zambeze- em homenagem a este gigantesco rio que alimenta o país, Ponte da Unidade Nacional- em homenagem à eliminação do acidente geográfico que impedia o país de se unir, Ponte Filipe Samuel Magaia- em homenagem ao grande estratega da luta de libertação nacional, Ponte 25 de Junho- em homenagem ao dia da Independência ou Ponte 25 de Setembro em homenagem ao início da Gesta heróica dos heróis da luta de libertação.
A terminar os signatários da Carta Aberta dirigem-se ao Presidente da República nos seguintes termos: "Tenha a certeza senhor Presidente que o seu nome ( se for o caso) apenas ficará registado na placa e nos dircursos de ocasião. Porque na memória do povo ela será sempre Ponte da Unidade, Ponte do Zambeze ou Ponte Eduardo Mondlane. A História o julgará ou a História lhe fará justiça". Entre os signatários da Carta Aberta ao Presidente da República figuram nomes de diversas figuras da sociedade moçambicana como são os casos do deputado e académico Manuel de Araújo, do jornalista Machado da Graça e do animador cultural Tomás Mulungo. ( In Zambeze)