quinta-feira, 13 de maio de 2010

Afinal, de que lado estás?

Afinal, de que lado estás?

Esta coisa de escrever, por vezes, coloca-me nas situações mais atípicas. Não que tais situações me causem preocupação ou me inibam de continuar a escrever. Até porque tenho dito que escrevendo exerço cidadania. E o exercício da cidadania a vários níveis é muito importante para as sociedades democráticas. E, sobretudo, para a nossa sociedade onde sopram perigosos ventos monolíticos. Onde a força política hegemónica não poupa esforços para que todos dancem ao ritmo do batuque comendo uma maçaroca. Esquecendo-se que cada um é livre de dançar ao ritmo que prefere ou que mais goste.
Mas são coisas próprias de uma sociedade onde a democracia é recente e o passado totalitário ainda tem marcas visíveis. E talvez por isso vemos o “Kimilsunguismo” a ganhar terreno e, parece que aos detentores do cartão vermelho é obrigatório que nos seus discursos enalteçam as qualidades do “Grande Líder”. Não que não as tenha, mas uff! começa a cansar que o erário público pague deputados cuja missão no Parlamento é quase unicamente enaltecer as qualidades do “Sábio Líder”. Aliás, nem acredito que ele precise de tanto escovismo. Mas estamos perante um caso em que a razão mora do lado onde há pão. Ou o que se pensa que é razão. Lá vão os tempos em que nas hostes do Partidão a dialéctica era prática.
Mas o problema sobra para os que preferem dançar ao ritmo da música que melhor lhes apraz, pouco se importando se o batuque que toca anima maçarocas ou perdizes. Falo dos que emitem as suas opiniões, pouco se importando com a coloração política das mesmas.
A esses espera uma questão: afinal de que lado estás?
E, eu não escapei a essa pergunta. Vinda de um amigo que depois da pergunta lembrou-me que eu estava a desiludir-lhe porque cada vez menos tinha certeza do lado em que eu estou. “Umas vezes pareces ser dos nossos mas na semana seguinte escreves umas coisas que dão a entender que estás do outro lado”. Só não ri às gargalhadas para não dar outra desilusão ao meu amigo.
Nem sequer importei que ele elaborasse mais da dicotomia “nós”, “eles”, porque há vários anos que convivo com esse conflito. Um conflito próprio de uma sociedade onde vários sectores continuam a não acreditar que há milhões de moçambicanos com ideias próprias e não atrelados a grupos, grupelhos ou gangs. Uma sociedade onde quando um indivíduo sem nome firmado sobressai, no lugar de lhe reconhecerem qualidades começam-lhe a atribuir padrinhos ou, sem hesitação chamam-lhe de testa de ferro do fulano. Como se todos os moçambicanos com alguma iniciativa fossem afilhados ou testas de ferro de alguém. O que disse serve, sobretudo, para os que sobressaem no mundo de negócios. Uma sociedade que acreditava que o saber fazer determinada coisa passa por estar num desses lados. E, talvez por, como me referi numa crónica anterior, vemos muitos candidatos a empreendedores de cartão vermelho em punho. Porque acreditam que estando desse lado podem ter o apadrinhamento necessário. Muitos deles nem nunca leram os estatutos do partido de que são membros. Mas simplesmente têm o cartão na expectativa de um apadrinhamento. Mas nem sequer se lhes pode atribuir culpa pela atitude que tomam mas sabem de antemão que na hora do apadrinhamento vão ter que responder a questão: Afinal, de que lado estás?
Felizmente para mim, eu sou o meu próprio lado.

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