quinta-feira, 13 de maio de 2010

Que tal se virássemos para a esquerda?

Que tal se virássemos para a esquerda?

Nas três gerações que se diz existirem em Moçambique uma tem uma missão muito espinhosa. A missão de virar. Deve ser por isso que é chamada de “geração de viragem”. É verdade que faço parte dos muitos que ignoram os critérios que determinaram a rotulagem dessas gerações e, sobretudo, porque nesse grupo há uma “geração de viragem”. Mas esse debate fica para outro momento neste mesmo espaço. Por ora preocupa-me saber para onde é que se pretende que a “geração de viragem” vire. Como acima disse, não me identifico com esse rótulo e muito menos sei das razões dela existir. Mas quando se fala da referida geração vejo indivíduos do meu grupo etário, pode ser que também eu seja um dos que hão-de “virar”. Não por opção própria mas por pertencer a um determinado grupo etário. Por isso também tenho as minhas sugestões da viragem que tem que ser feita.
À partida temos que assumir que se há uma “geração de viragem” é porque há necessidade de virar. Isto é, mudar de direcção. Se não agora, pelo menos um dia vai ter que se fazer a propalada “viragem”.
Mas a questão primeira que se coloca é: por que razão haverá necessidade de virar?
Muito provavelmente porque está na direcção errada. Ou pelo menos daqui a algum tempo a direcção que segue deverá entrar em falência.
E, porque essa coisa das três gerações é assunto político, por via de consequência estamos a falar de direcção política e de virar politicamente.
O actual cenário político só permite manobras para a esquerda. Porque é a direita que se está a andar. Basta ver como o capitalismo ganhou terreno fazendo esquecer os tempos em que a foice e o martelo já tiveram espaço privilegiado em Moçambique.
Por isso, para que a manobra não seja perigosa é só girar o volante para esquerda e mudar de direcção. E assim valerá a pena os arautos da “geração de viragem” ocuparem espaços privilegiados, exibindo obra feita. Porque de se dizer da “geração de viragem” somente para fazer coro não dá. É preciso ter obra feita. É preciso, no mínimo, ter feito alguma viragem.
E nada melhor que virar para esquerda. Claro que seria uma viragem ousada porque estaria na contra-mão da direcção que se segue hoje. Mas quem é “de viragem” tem que virar de facto.
Virar para a esquerda possibilitaria que a referida geração resgatasse valores nobres que o capitalismo, também selvagem, apagou da nossa sociedade.
Por exemplo, podiamos repensar as privatizações. Muitas delas feitas sem critérios e que tiveram como saldo desempregar os trabalhadores das empresas privatizadas, visto que grosso delas tornaram-se improdutivas. A opção seria voltar a nacionalizá-las porque está claro que, nesses casos, a privatização só teve resultados nefastos a nível económico e, também, social. Porque essa de que o Estado tem que estar fora da actividade económica e ser mero regulador não é verdade. Claro, desde que as empresas do Estado não sejam um fardo. Mas se produzem lucros, criam empregos e dinamizam a economia devem e muito bem existir.
Essa das privatizações de forma desenfreada é ideia dos que estão na direcção que vamos abandonar quando fizermos a viragem.
Outra coisa que podia ser feita é, no lugar de nos preocuparmos em popularizar os impostos que em muitos casos pode significar sobrecarregar os bolsos mais vazios, devia-se aumentar os impostos sobre as grandes fortunas que são aos montes no país. Essa de que pode desestimular o investimento não é bem verdade. Tanto mais que em Moçambique muitas das grandes fortunas nem sequer resultam de actividades produtivas. Mas da promiscuidade negócio-política.
São apenas alguns exemplos de como podia-se virar para uma sociedade mais justa onde os mais desprotegidos não continuem a se sacrificar para o benefício dos mais abastados.
Repito, apenas alguns exemplos de como pode-se de verdade virar. Porque virar de boca para fora é falar, não é virar.

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