Num momento em que com cada vez mais persistênsia fala-se da existência de petróleo em solo moçambicano permitam-me partilhar convosco o artigo de Viriato Soromenho-Marques publicado na edição nº 969 do JL.
Crude e dupla personalidade*
A descoberta de uma vasta jaziga submarina de petróleo e gás natural aoa largo do Rio de Janeiro veio revelar como o discurso político está hoje afectado por uma forte patologia, que nada indica de bom quanto ao nosso futuro.
O petróleo tem sido o sangue do sistema económico dos últimos 80 anos, do mesmo modo como o carvão foi ao longo do século XIX e ainda durante uma parte significativa do século XX.
Hoje deparamo-nos com dois problemas. A segurança do abastecimento está em risco por um conjunto de razões, entre as quais avulta o facto de, muito provavelmente, já termos ultrapassado o «pico do petróleo» ( isto é; já estarmos a usar a metade final do recurso acessível portecnologias de exploração). Sobre isto não tenho certezas, mas suspeitas. A s informações sobre estatísticaas seguras acerca de reservas não existem. Quase todos os países tratam esta informação como um duplo segredo, comercial e militar.
Mas mesmo que asa reservas de crude fossem ilimitadas, sabemos hoje qu existe um problema incontornável: as alterações climáticas resultantes da queima de combustíveis fósseis, que aumentam a concentração de gases de estufa na atmosfera provocando esta ameaça nova de âmbito «ontológico», que constitui o maior desafio que a humanidade jamais enfrentou na luta pela continuidade da civilização.
Sabemos que líderes como Putin ou Chávez não se preocupam minimamente como outra coisa senão com os seus negócios e o modo como o petróleo e o gás natural contribuem para o seu poder pessoal.Mas dos líderes democráticos espera-se mais.
Não gostei de ouvir José Socrátes a congratular-se com os lucros da Galp, como se fosse um accionista na véspera de lucrar com os ganhos da venda de acções.
O que se esperaria de um dirigente democrata com capacidade de liderança iria noutro sentido: a) deveria salientar que a aposta estratégica está hoje na progressiva libertação da nossa economia em relação a tutela dos combustíveis fósseis; b) deveria destacar que o petróleo é uma importante matéria-prima, não renovável, que deverá ser usada como material para inúmeras aplicações, não para o seu uso mais grosseiro e prejudicial para o ambiente como combustível;c) devria salientar a importância de usarmos com eficiência os combustíveis fósseis para ganharmos mais tempo par encontrar alternativas energéticas que evitem o colapso económico e a crise ambiental.
Foi pena que o nosso primeiro-ministro tivesse silenciado, no seu júbilo, ests questões centrais.
Naquilo que nos alegra ou naquilo que silenciamos, revela-se ou manifesta-se a grandeza de um projecto político.ou a falta dela.
*Por Viriato Soromenho-Marques in JL
Nota: Oxalá que a eventual descoberta de petróleo em Moçambique ( há quem garante que o nosso país realmente tem petróleo) não signifique um «jackpot» para a elite governamental e desastra ambiental para todo o território nacional.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
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Um comentário:
Olá Celso. Estou a visitar o s/blog, e vou pôr um link no meu. Como sempre frontal nas suas afirmações. Ainda bem que existem pessoas que dizem o que deve ser dito. Bem Haja Moçambique.
Antero Ferreira
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